ARTICULO DE INVESTIGACIÓN ORIGINAL
Fecha de presentación: 9-7-2020 Fecha de aceptación: 20-10-2020 Fecha de publicación: 5-10-2020
TRABAJOS DE CONCLUSIÓN DE CURSO Y LÍNEAS DE INVESTIGACIÓN EN CIENCIAS DE LA INFORMACIÓN EN ANGOLA
COURSE COMPLETION PAPERS AND RESEARCH LINES IN INFORMATION SCIENCES AT THE HIGHER INSTITUTE OF COMMUNICATION SCIENCES IN ANGOLA
Bruno-Jyferson
Ms C.Professor Assistente do Departamento de Ensino e Investigação em Ciências da Informação. Coordenador do Curso Pós-laboral em Ciências da Informação do Instituto Superior de Ciências da Comunicação, Kilamba, Luanda-Angola Correio: Jyferson87@hotmail.com ORCID ID: https://orcid.org/0000-0001-5380-0181
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¿Cómo citar este artículo?
Jyferson, B. (noviembre-febrero 2020). Trabalhos de conclusão do curso e linhas de investigação em ciências da informação em Angola. Pedagogía y Sociedad, 23(59), 340-360. Disponible en http://revistas.uniss.edu.cu/index.php/pedagogia-y-sociedad/article/view/1107
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RESUMO
O presente estudo foi elaborado com o objectivo de examinar as linhas de investigação desenvolvidas nos Trabalhos de Conclusão do Curso (TCC) de Licenciaturas em Ciências da Informação (CI) do Instituto Superior de Ciências da Comunicação (ISUCIC). Neste sentido, procura-se também identificar tendências em áreas temáticas e em áreas de investigação. Neste estudo usam-se procedimentos metodológicos como análise documental e análise de conteúdo. Outrossim, usa-se a análise estatística como instrumento de pesquisa. Para tal, o referido estudo contou ainda com uma amostra determinada de 103 TCC defendidos em prova pública nos anos académicos de 2018 e 2019. Como resultado, espera-se descortinar as tendências da investigação no âmbito do curso de Licenciatura em CI do ISUCIC.
Palavras chave: Angola; Ciências da Informação; Instituto Superior de Ciências da Comunicação; Linhas de Investigação; Trabalho de Conclusão de Curso.
______________________________RESUMEN
Este estudio fue diseñado con el objetivo de examinar las líneas de investigación desarrolladas en los Trabajos de Conclusión de Curso (TCC) de la Licenciatura en Ciencias de la Información (CI) del Instituto Superior de Ciencias de Comunicación (ISUCIC). En este sentido, también se busca identificar tendencias en áreas temáticas y en áreas de investigación. Este estudio utiliza procedimientos metodológicos como el análisis de documentos y el análisis de contenido. Además, el análisis estadístico se utiliza como herramienta de investigación. Para ello, el citado estudio también contó con una muestra determinada de 103 TCC defendidos en examen público en los cursos académicos de 2018 y 2019. Como resultado, se espera revelar las tendencias de investigación en el ámbito de la Licenciatura en CI en ISUCIC.
Palabras clave: Angola; Ciencias de la Información; Instituto Superior de Ciencias de la Comunicación; Líneas de investigación; Trabajo de fin de curso.
______________________________ABSTRACT
This study was designed with the aim of examining the lines of research developed in the Course Completion Papers (CCP) of the Information Sciences (IC) Bachelor´s Degree at the Higher Institute of Communication Sciences (ISUCIC, in Spanish). Furthermore, trends in thematic and research areas were also identified. As to methodological procedures, the following were used: statistical, document and content analysis. To this end, in the aforementioned study, 103 CCP presented in public exams corresponding to the academic years 2018 and 2019 were used as a sample. As a result, the research trends within the scope of the Bachelor's Degree in IC at ISUCIC were shown.
Keywords: Angola; Information Sciences; Higher Institute of Communication Sciences; Research Lines; Course Completion Paper
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INTRODUÇĀO
A |
produção científica em Angola sobre Ciências da Informação deixa-nos ainda aquém da expectativa, é ainda bastante diminuta e recente justificada pela quase inexistência de investigadores em contexto académico, reflectindo-se na carência de resultados em publicações, monografias, assim como congressos e encontros científicos. Dos poucos que existem, deve-se, quase sempre, aos TCCs do curso de CI do ISUCIC.
Com efeito, o curso de Ciências da Informação no contexto do ensino superior em Angola constitui um desafio e uma oportunidade para a educação em Informação e em Sistemas (Tecnologias) de Informação em Angola. Um dos grandes desafios deste curso prende-se na melhoria da qualidade da estrutura curricular, do corpo docente, da metodologia de ensino-aprendizagem, da base cientifica-didáctica e da promoção da investigação. O referido curso contribui fundamentalmente na sociedade académica angolana, particularmente aos profissionais de informação, na aquisição de competências, habilidades e valores que fortaleçam a cultura e comportamento informacional com vista na melhoria na qualidade dos serviços de informação prestados nas universidades, em particular, e na Administração Pública angolana, em geral.
Embora a literatura existente faça referência a Ciência da Informação, no singular, nesta pesquisa adopta-se a denominação Ciências da Informação (CI), no plural, para se referir a associação da disciplina de Ciências da Informação com a Biblioteconomia, Arquivologia e Museologia, dado que a realidade angolana adopta a denominação de Cuba. Esta investigação tem como objectivo analisar as linhas de investigação dos trabalhos de conclusão de curso produzidos no curso de CI do Instituto Superior de Ciências da Comunicação de Angola.
MARCO TEÓRICO E REFERENTES CONCEPTUAIS
A Ciência da Informação é uma área de pesquisa relativamente nova, cuja criação, com sua configuração actual, data da metade do século XX. Varias são as discussões em torno do que seria “Ciência da Informação?” e o que faziam os “cientistas da informação?”, verificando-se a existência de inúmeras propostas de definição desta área. Dentre estes destacam-se Borko (1968), Robredo e Cunha (1994), Capurro (2003), Le Coadic (2004) e Silva et al. (2009), Silva (2019) e tantos outros autores.
Neste sentido, Borko, com o seu artigo “Information science: what is it?”, definiu a CI como:
A disciplina que investiga as propriedades e o comportamento informacional, as forças que governam o fluxo informacional e os meios de processamento da informação para a optimização do acesso e uso. Está preocupada com um corpo de conhecimento relacionada à origem, colecta, organização, armazenamento, recuperação, interpretação, transmissão, transformação e utilização da informação. Isto inclui a pesquisa sobre a representação da informação tanto no sistema natural, como no artificial, o uso de códigos para uma eficiente transmissão de mensagens e o estudo dos serviços e técnicas de processamento da informação e seus sistemas de programação. Trata-se de uma ciência interdisciplinar derivada e relacionada com vários campos como a matemática, a lógica, a linguística, a psicologia, a tecnologia computacional, as operações de pesquisa, as artes gráficas, as comunicações, a biblioteconomia, a gestão e outros campos similares. Tem tanto uma componente de ciência pura, que indaga o assunto sem ter em conta a sua aplicação, como uma componente de ciência aplicada que desenvolve serviços e produtos. (1968, s/p).
Esta definição de CI parece ser a mais completa e vale destacar que ainda hoje permanece como uma das principais da área e que a partir dela surgiram várias outras. Pelo que, isto não inibiu que outros autores apresentassem também as suas ideias em torno do que acham de CI.
Por sua vez, Robredo e Cunha (1994, p. 5) definiu Ciência da Informação como uma “disciplina interdisciplinar que se deriva e se associa a disciplinas como as matemáticas, a lógica, a linguística, a psicologia, a informática, a pesquisa operacional, a análise de sistemas, as artes gráficas, as comunicações, a biblioteconomia, a administração, etc”. Assim, a biblioteca tradicional e a documentação não são mais do que aplicações particulares da Ciência da Informação. Ainda na visão deste autor:
Um aspecto que sobressai da ciência da informação é a participação de pesquisadores em ciência e tecnologia, no processo total. Estes consigam os resultados de seu trabalho em publicações (livros, teses, artigos de periódicos, relatórios, anais de congressos, patentes) e esses resultados servem de base a outros investigadores para realizar novos estudos. Entre um extremo e outro do processo de produção-utilização da informação, situam-se os técnicos e especialistas da informação que processam a informação contida nos diversos documentos, reunindo-a, canalizando-a, tratando-a, seleccionando-a, difundindo-a, armazenando-a e recuperando-a, facilitando, assim, o trabalho dos usuários, os quais não podem, de outra forma, ter acesso à informação de que precisam. (Robredo e Cunha, 1994, p. 5).
Nesta definição nota-se claramente a interdisciplinaridade e transversalidade da CI. Outrossim, demonstra ainda que a biblioteconomia e a documentação são áreas técnicas da CI, onde os técnicos possuem um grande papel na resolução dos problemas dos usuários.
Com base nas definições anteriores, nota-se uma visão contemporânea à luz do avanço da ciência e da tecnologia na CI, o que demonstra mudança de paradigma, novas ideias e novas maneiras de olhar a CI são apresentadas. Porém, a CI não abandona as áreas clássicas (Biblioteconomia e Arquivística) mas agrega outras áreas (Ciência e Tecnologia), desta forma, apresentando cada vez mais um papel crítico, dinâmico e abrangente, com vista a fortalecer o campo inter – disciplinar entre as áreas.
Nesta visão, Capurro (2003) apresenta duas raízes da CI: a ciência das mensagens, centrada na biblioteconomia clássica e constituída de uma rede de relações baseadas na linguagem; e a raiz que possui carácter tecnológico, apoiado nos processos de produção, colecta, organização, interpretação, armazenagem, recuperação, disseminação, transformação e uso da informação.
Por seu turno, Le Coadic (2004) afirma que o surgimento da CI teve origem na biblioteconomia, uma vez que teve como objecto de estudo a informação obtida em bibliotecas, evoluindo para as informações científicas e tecnológicas. Para o autor, a CI é o estudo da informação e de suas propriedades gerais: natureza, génese e efeitos, e seus objectivos são a análise dos processos de construção, comunicação, sua utilização, bem como a concepção dos produtos e sistemas que permitem sua organização, comunicação, armazenamento e uso.
Silva e Ribeiro (2008, p.79-80) discordam do conceito interdisciplinar da CI, significando na maioria das vezes que se trata de uma «miscelânea» de perspectivas e de métodos de procedência diversa e de articulação inexistente, logo caótica. Os autores buscam em sua obra, o que chamaram no cap. 3, do livro de «Da (Re) construção científica» uma perspectiva unitária e sistemática reflectida num «diagrama do campo da CI», representada pela figura de uma flor, onde apresentam todo enfoque teórico e metodológico da CI. Concorda-se que a figura da flor é de facto interessante e sugestiva, mas ainda não soluciona o problema das várias interpretações que existem a nível epistemológico neste domínio emergente.
É de facto salutar o debate entre as várias perspectivas e abordagens na CI. Entre várias divergências e convergência, o seu escopo de actuação continua a evoluir, fundamentando-se, num dos seus principais objectivos de estudo colectar, organizar, interpretar, armazenar, recuperar, transformar e partilhar a informação. Embora que, Goffman citado Moura et al (2015, p. 137) afirma que o:
Objectivo da Ciência da Informação deve ser o de estabelecer um enfoque científico homogéneo para estudo dos vários fenómenos que envolvem a noção de informação, sejam eles encontrados nos processos biológicos, físicos, matemáticos, na existência humana ou nas máquinas criadas por humanos.
No que respeita aos aspectos metodológicos, Marcia Bates citada por Silva e Ribeiro (2008) considera que:
A CI recorre a «instância» das ciências sociais e das ciências da engenharia, ou seja, uma metodologia socio-técnica. Tal metodologia passa pelo recurso às técnicas bibliométricas e estatísticas e por abordagens filosófico-analíticas, bem como pelo uso das ferramentas das ciências sociais, das quantitativas e qualitativas, e pelo emprego de técnicas de engenharia. Conclui, pois, que a mistura de metodologias é necessária, ou seja, a CI requer abordagens metodológicas múltiplas para desenvolver a sua própria investigação.
Corrobora-se com a linha de pensamento da autora, uma vez que a CI é uma disciplina inter, trans e multidisciplinar, é natural, na sua abordagem, uma metodologia mista.
Neste sentido, vários foram os autores que apresentaram e estabeleceram bases teórico-metodológicas sob diferentes contextos, abordagens e paradigmas sobre o corpo teórico e metodológico da CI. Existem muitos pontos em comum, assim como existem algumas diferenças em ênfase nas várias definições apresentadas. Assim, pode-se concluir que a CI é uma disciplina científica completa, com conceitos teóricos e práticos próprios, assim como, derivados de outras áreas. Preocupa-se com a produção/aquisição, transferência, organização, representação, processamento, distribuição, comunicação e uso da informação. Portanto, até a sua consolidação, a CI precisou de teorias e contribuições de várias áreas do saber. Outrossim, é ainda um paradigma aberto e emergente, um campo interdisciplinar rico e em constantes renovações.
O Projecto Pedagógico do Curso de Ciências da Informação apoia-se no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI 2016-2023) do ISUCIC, adaptado do programa adquirido à República de Cuba (Departamento de Ciências da Informação da Faculdade de Comunicação da Universidade de Havana) por solicitação do Governo de Angola e “contextualizado profundamente às necessidades formativas da República de Angola e não só”. O PPCCI tem como designação do curso Licenciatura em Ciências da Informação, com uma duração de quatro (4) anos lectivos e tem como conclusão de estudos a realização de uma monografia. A Licenciatura em Ciências da Informação exige uma modalidade de ensino do tipo presencial (diurno e nocturno) e confere o grau académico de Licenciado em Ciências da Informação. A primeira turma do curso de Ciências de Informação frequentou entre Fevereiro de 2014 e Dezembro de 2014. Esta turma teve como previsão de conclusão do curso em 2017.
O PPCCI (2016) proporciona um conjunto de princípios teóricos e metodológicos para o desenvolvimento do Curso de CI. Inicialmente indica a apresentação do curso (Designação do Curso, Tempo de Duração, Modalidade de Ensino, Grau Académico que confere e Período de Leccionação). Seguido de um histórico e uma justificativa. Este projecto apresenta os princípios norteadores do curso, assim como: objectivo do curso (gerais e específicos) e os objectivos das disciplinas; e as habilidades. Igualmente apresenta as componentes lectivas, do primeiro (1º) ano até ao quarto (4º) ano, com as suas respectivas cargas horárias. “Tem ainda em conta os perfis académicos, de entrada e saída, bem como competências e valores” (Maneco, 2019, p. 20). Neste sentido, o PPC:
Contribui para criar e desenvolver um modo de actuação no estudante que o prepara para a sua actividade investigativa sistemática, permitindo-lhe identificar o carácter eminentemente social da ciência e da tecnologia. As orientações metodológicas que se propõem devem ser tomadas como uma base para a posterior selecção de estratégias, procedimentos ou métodos e acções concretas por parte dos Departamentos de Ensino e Investigação (DEI´s) e dos docentes, criando as rotas de aprendizagem para o curso de Ciências da Informação e permitindo ao estudante desenvolver todos os seus talentos e inteligências. (PPC, 2016, p. 36)
Na organização curricular, ou ainda na chamada grelha curricular, o PPCCI apresenta o resumo da carga horária, total de horas do curso, plano de precedência das disciplinas; orientações metodológicas gerais e de organização do curso e programas analíticos dos grupos de disciplinas.
Observa-se ainda no PPC, o programa analítico do grupo de disciplinas básicas divide-se em dois domínios: Línguas e Ciências Sociais; o programa analítico do grupo de disciplinas específicas concentra-se em cinco domínios: (1) Fundamento da Ciência da Informação e (2) Organização, Representação e Recuperação da Informação e (3) Investigação em Ciência da Informação; (4) Gestão Documental, da Informação e do Conhecimento e (5) Trabalho Prático. E por último, o programa analítico do grupo de disciplinas optativas[1].
Para identificar eventuais tendências nas temáticas desenvolvidas, a que não são certamente alheias ao contexto nacional e internacional no desenvolvimento das CI, procurou-se definir uma tabela de classificação das áreas de investigação. Todavia, a tabela de classificação segue de perto a classificação por áreas temáticas apresentadas por Silva (2019), que já resulta de investigação de épocas anteriores, propostas por vários autores, em outras realidades investigativas. Deste modo, procurou-se classificar os diferentes TCC ao nível de graduação de acordo com os seguintes domínios e áreas de investigação
Tabela 1 - Domínios e áreas de investigação em CI
Domínio |
Área |
Ciência |
Epistemologia |
Metodologia |
|
Cienciometria |
|
Profissão |
Biblioteca |
Arquivo |
|
Museu |
|
Perfil Profissional |
|
Gestão |
Gestão da Informação |
Gestão do Conhecimento |
|
Gestão Documental |
|
Marketing |
|
Estudo do Usuário |
|
Restauro, preservação e conservação |
|
Produtos e Serviço |
|
Informação |
Avaliação |
Fontes e Busca de Informação |
|
Armazenamento e Recuperação da Informação |
|
Auditoria da Informação |
|
Colecções e Fundo |
|
Gestão de Conteúdo |
|
Tecnologia |
Hardware |
Software |
|
Formação |
Formação |
Fonte: Silva, 2019
Estas linhas de investigação demonstram uma diversidade de áreas temáticas e de especialidade no trabalho científico em CI. Com isto, as linhas de investigação devem promover o desenvolvimento de estudos interdisciplinares e transversais que contribuam para aprofundar o conhecimento científico em CI. Outrossim, estas linhas de investigação alinhadas ao Projecto Pedagógico do Curso de Ciências da Informação contribuem também para a evolução e consolidação dos conteúdos teóricos de domínios específicos em trabalhos práticos no curso de CI em Angola.
METODOLOGIA EMPREGADA
Para a realização desta pesquisa usou-se determinados procedimentos técnicos e metodológicos quer de nível teórico como empírico, pois, entende-se que a metodologia é o caminho para se atingir os objectivos, mediante a utilização de técnicas. Assim sendo, no que diz respeito aos métodos a nível teórico, foram utilizados nesta pesquisa os métodos: histórico-lógico e o de análise conteúdo.
O método histórico-lógico que consiste em “investigar acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar a sua influência na sociedade de hoje” (Marconi e Lakatos, 2003, p. 107), foi utilizado nesta pesquisa para recolher informações que ajudaram a compreender a evolução das teorias relacionadas à CI.
Para a análise dos dados, fez-se recurso ao método de análise de conteúdos, que serviu para a interpretação das informações recolhidas por meio de instrumentos técnicos, que buscou-se compreender as linhas de investigação nos TCC de CI no ISUCIC.
Quanto aos métodos de nível empírico, usou-se o método estatístico, que para Marconi e Lakatos (2003, p. 108), “permite através dos processos estatísticos obter, de conjuntos complexos, representações simples e constatar se essas verificações simplificadas têm relações entre si”. A sua utilização nesta pesquisa serviu para processar os dados obtidos, representá-los quantitativamente e após a interpretação dos mesmos, a representação qualitativa, que se fez com recurso ao programa Excel 2016, para a elaboração dos gráficos.
A pesquisa é de acordo aos seus procedimentos técnicos, bibliográfica por ser desenvolvida através de levantamento de dados em materiais já publicados, como artigos, livros e monografias. A pesquisa configura-se também de carácter mista pelo uso de abordagens quantitativa e qualitativa.
População e Amostra
O total de indivíduos cujas características são previamente definidas para um determinado projecto de investigação, denomina-se população ou universo. Lakatos e Marconi (2007) citados por Prodanov e Freitas (2013, p. 98), consideram que “o universo ou a população-alvo é o conjunto dos seres animados e inanimados que apresenta pelo menos uma característica em comum, sendo que a amostra “é uma parcela convenientemente selecionada da população ou universo”.
No caso do ISUCIC, local onde foi realizada a pesquisa, nomeadamente no Departamento de Ensino e Investigação (DEI) tomou-se como população ou universo, o total de TCC apresentados entre 2018 a 2019. A determinação da população ou universo da pesquisa foi possível mediante o acesso aos TCC, até o mês de Abril de 2020. Destes dados, foi possível verificar a existência de 103 TCC, sendo 31 TCC apresentados em prova pública em 2018 e 72 TCC, igualmente, apresentados em prova pública em 2019.
Para a seleção da amostra, o único critério utilizado foi ser um TCC apresentado entre 2018 a 2019. Assim, tendo em conta o tamanho da população, foi tomado toda a população como a amostra. Trata-se, entretanto, de uma amostra bastante representativa dos trabalhos investigativos no ISUCIC durante os 6 (seis) anos de existência do referido Instituto.
Para a classificação da produção científica, procurou-se desenhar um quadro de classificação das linhas de investigação desenvolvidas no âmbito da graduação em CI no ISUCIC, partindo dos TCC arquivados e fornecidos pelo Departamento de Ensino e Investigação (DEI) do ISUCIC.
RESULTADOS E DISCUSĀO
Análises estatísticas dos dados
Este item dedica-se ao tratamento dos dados através da tabela de frequências, composta por domínios, área e conteúdo, a saber:
Tabela 2 – Tabela de frequências de investigação em CI
Domínio |
Área |
Conteúdo |
Frequência |
Ciência |
Epistemologia |
|
|
Metodologia |
Viabilidade do Curso de CI; |
1 |
|
Cienciometria |
Revista Científica para a divulgação da produção científica do ISUCIC |
1 |
|
Profissão |
Biblioteca |
Criação de Bibliotecas; Rede de Bibliotecas; promoção de leitura; Bibliotecas Universitárias. |
11 |
Arquivo |
Arquivo; plano de classificação de arquivo; documento de arquivo e arquivo digital. |
13 |
|
Museu |
Museu; Nova museologia; Processo museológico. |
3 |
|
Perfil Profissional e Competência |
Imagem do profissional da informação; competência. |
5 |
|
Gestão |
Gestão da Informação |
Modelo de Gestão da Informação; Mapeamento da informação. |
5 |
Gestão do Conhecimento |
Modelo de Gestão de Conhecimento. |
4 |
|
Gestão Documental |
Gestão documental; |
11 |
|
Marketing |
Estratégia de Marketing; Plano de Marketing. |
4 |
|
Estudo do usuário |
Estudo do usuário; competência digital do usuário |
4 |
|
Restauro, Preservação e Conservação |
Restauração de documentos; estratégia de preservação e conservação; Conservação preventiva; Manual de preservação; Plano de Conservação |
15 |
|
Produtos e Serviços |
Divulgação de produtos e serviços. |
4 |
|
Informação |
Avaliação |
Avaliação de desempenho dos serviços e produtos |
1 |
Fontes e Busca de Informação |
Busca de Informação. |
1 |
|
Armazenamento e Recuperação da Informação |
Recuperação da Informação. |
1 |
|
Auditoria da Informação |
Auditoria da informação. |
1 |
|
Colecções e Fundo |
Plano de Colecções |
1 |
|
Gestão de Conteúdo |
Plano de Gestão de Conteúdo |
1 |
|
Tecnologia |
Hardware |
|
|
Software |
Rede de Internet; Repositório; Ambiente web; Desenho de website. |
7 |
|
Formação |
Alfabetização Informacional |
Programa de Alfabetização; Programa de Capacitação; Literacia da Informação. |
9 |
TOTAL |
|
103 |
Fonte: Silva, 2019
Posteriormente são apresentados os dados estatísticos através de gráficos de barras rectangulares proporcional aos valores que ele apresenta, a saber:
Gráfico 1 - Domínios e áreas de investigação em CI
Fonte: Silva, 2019
O gráfico acima demonstra as áreas com maior e menor incidências. Para identificação das áreas, partiu-se dos títulos dos TCC; dos índices dos referidos trabalhos; da leitura dos TCC durante a participação do pesquisador em mesas de júri, ora como presidente da mesa, ora como orientador de monografia (2º vogal) e/ou ora como arguente (1º vogal), tendo lido na íntegra cerca de 30% dos TCC apresentados e defendidos em prova pública. Para efeito, o gráfico demostra-nos que os TCC relacionados à área de restauração, preservação e conservação encontram-se com maior frequência, isto é, 15%. A seguir encontram-se arquivos (13%), biblioteca (11%) e a área de Gestão Documental (11%).
Estas áreas são as mais escolhidas pelos estudantes finalistas. Acredita-se que isso se deve grande parte, pela influência da linha de investigação do curso de CI do ISUCIC, que é conduzida, primordialmente, nas áreas de Arquivo; Biblioteca e Museu; pela linha de investigação em que os seus orientadores têm formação ou preferência; pela experiência observada em estágios nas instituições públicas (INAGBE; INAREES e entre outras) acreditando-se que os respectivos documentos de arquivos encontram-se mal conservados e mal organizados, não cumprindo com os procedimentos adequados do processo de conservação e preservação preventiva de arquivos, por isso produzem estudos com propostas de melhoria ou com propostas de aplicação de técnicas correctas; e por último pela importância e valorização que se quer atribuir aos estudos relacionados às áreas já citadas.
Segue-se, em termos de preferência, a área de formação, capacitação e alfabetização profissional. Talvez isso, explica-se pelo ensejo de grande parte dos estudantes finalistas, agora licenciados, pretenderem formar ou criar programas de capacitação aos profissionais que lidam com a informação nas administrações públicas angolanas que não têm formação académica e/ou científica na área. Estes, na sua maioria, são funcionários públicos que labutam no seu dia-a-dia através da prática empírica, sem obedecer as leis, técnica e princípios científicos.
Nesta sequência, segue-se ainda a área do software que vem ganhando cada vez mais paixão pelos estudantes finalistas. Nota-se, uma nova tendência investigativa e o interesse no domínio tecnológico, mais virada para criação de recursos tecnológicos, desde a concepção de bases de dados, programas informáticos, arquivos e bibliotecas digitais e gestão automática de arquivo, afastando-se passo a passo da vertente historicista e descritiva sobre os temas ligados as bibliotecas e arquivos em que estavam limitados os estudos académicos, partindo para uma vertente mais tecnicista, prática e tecnológica, embora, muito destes trabalhos ainda limitados pela teoria, pouca competência prática na elaboração dos programas tecnológicos e nas ferramentas automáticas de gestão de informação.
Porém, acredita-se que isso se deve ao facto de ocorrer mais aulas teóricas do que práticas; mais aulas em salas de aulas do que em laboratórios. Razão, pela qual, grande parte dos TCC, na área de software, é ainda mais teórica do que prática, com mínimo de engenharia e arquitectura de informação mas que já se apresentam como propostas razoáveis para a sua aplicabilidade. Contudo, não se percebe a pouca frequência e uso do laboratório, uma vez que as condições mínimas estão criadas. Vale, entretanto, referir que esta é uma observação empírica, cuja análise merece uma atenção maior e profunda, seguida de metodologia adequada para a fundamentação dessa abordagem.
O domínio teórico da ciência, epistemologia e metodologia, continua a ser ainda uma área pouco explorada, limitando-se as leituras e reprodução das poucas obras bibliográficas da América Latina (Cuba), do Brasil e Portugal que aparecem quer em suporte digital quer em físico. Geralmente, os estudantes finalistas procuram por obras já traduzidas em português, pois pouco ou mesmo nenhum registo se verifica/ou de citações em obras em língua inglesa ou francesa.
Observa-se ainda que as áreas de gestão da informação (5%); estudo do usuário (4%); produtos e serviços (4%); marketing (4%) e gestão do conhecimento (3%) são áreas pertinentes e actuais mas que não ultrapassam os dois dígitos. Se não aumentaram, talvez se deve ao facto pela sua complexidade metodológica na análise dos dados, na apresentação dos resultados, bem como nas técnicas e manuseio na alteração entre suporte físico e digital, o que não é, ainda, uma competência forte de grande parte dos estudantes finalistas do ISUCIC.
Apresenta-se ainda na tabela nº 2, os TCC com pouca frequência, que são as áreas de auditoria da informação (1%); colecções e fundo (1%); metodologia (1%) e cienciometria (1%), que aparecem aqui como novidades e que deveriam ser mais aprofundadas ao nível investigativo, acrescentando-se a essa área a bibliometria. São perspectivas de investigação invulgares no âmbito do Curso de CI no ISUCIC. Estas áreas aplicam a modelagem, os métodos estatísticos e matemáticos para analisar e construir indicadores sobre a dinâmica e evolução da informação científica e tecnológica nos diversos domínios da ciência.
Repare que com o desenvolvimento destas áreas, ainda pouco exploradas no ISUCIC, mas que já se teve iniciativas por brilhantes estudantes, diversificará as linhas de investigação dando aos estudantes uma perspectiva abrangente do curso, que é condição natural da CI, do que uma perspectiva simplista e reducionista, limitando-se aos arquivos e bibliotecas, como se a CI tratasse somente estas áreas, é preciso pautar-se por uma postura de desconstrução hermenêutica e trazer à luz novos paradigmas. Porém, verdade seja dita, a CI em Angola está ainda numa fase embrionária comparando-se com outras realidades, mas isso não impede de desenvolvermos trabalhos investigativos noutras áreas para mostrarmos as valências do curso de Ciências da Informação.
Portanto, de todas as áreas indicadas pode-se avaliar que as tendências de investigação no ISUCIC centram-se nas seguintes áreas:
· Gestão (Restauro, conservação e preservação): geralmente virado para o plano de conservação e preservação.
· Profissão (biblioteca, arquivo): geralmente virado para documentos de arquivo, gestão de arquivo; gestão bibliotecária e o perfil do profissional.
· Tecnologia (software): geralmente virado para base de dados e desenho de website.
· Formação (alfabetização e capacitação): geralmente inclinado para programas de capacitação e alfabetização informacional.
Nesta realidade, os resultados são bem diferentes da realidade apresentada por Silva (2019), onde, no seu estudo, “as áreas de preservação, conservação e restauro não ocupavam o lugar entre as principais em termos de frequências”. No ISUCIC, estas áreas são de maior interesse e recebem um maior número de TCC, talvez seja pela sua pertinência e actualidade ou pelo interesse em ver resolvido os problemas de insuficiências de/na gestão de informação de várias unidades de informação da administração pública angolana.
Apresenta-se de seguida, a distribuição por género da tabela da produção científica em CI no ISUCIC, referente aos anos académicos de 2018 e 2019:
Tabela 3 - Distribuição por sexo da produção científica no ISUCIC
TOTAL DE TCC/2018-2019
|
|
Homem |
53
|
Mulher |
50
|
Total |
103
|
Fonte: Elaboração própria (2020)
Gráfico 2 - Distribuição por sexo da produção científica no ISUCIC
Fonte: Elaboração própria (2020)
A partir da análise do gráfico, é possível verificar que a produção científica no ISUCIC é equilibrada, sendo o sexo masculino com 51 % que mais apresentou TCC e numa percentagem não muito distante o sexo feminino é responsável por 49% dos TCC.
Pode-se concluir que as produções científicas verificadas decorrem de TCC, cujos temas geralmente são escolhidos pelos estudantes finalistas candidatos a licenciados, de acordo com os seus interesses e aptidões ou, na ausência de uma proposta, da sugestão por parte do professor. Ou ainda, decorrentes de um estágio numa instituição, resultam no TCC com propósito de resolver problemas concretos.
Neste sentido, os temas dos TCC podem ser transportados e potencializados à nível de mestrado para serem desenvolvidos com maior rigor e profundida. A possibilidade de abertura de uma pós-graduação é ainda uma realidade distante, mas não impossível, que fica aqui lançado o desafio para quando chegar a hora.
Relativamente às investigações produzidas no Curso de Ciências da Informação, no contexto do ensino superior, nomeadamente os Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) de Licenciatura em Ciências da Informação do Instituto Superior de Ciências da Comunicação, dos 103 TCC apresentados em 2018 e 2019, chegou-se a conclusão que têm maior incidência para a área de restauração, preservação e conservação (15%). A seguir encontram-se arquivos (13%), biblioteca (11%) e a área de Gestão Documental (11%). A produção científica no ISUCIC é equilibrada, entre género, sendo o sexo masculino com 51 % que mais apresentou TCC e numa percentagem não muito distante o sexo feminino é responsável por 49% dos TCC.
CONCLUSÔES
Os dados resultantes da pesquisa bibliográfica e da análise documental e de conteúdo, e tendo em consideração os objectivos e as problemáticas permitiram-nos finalmente expor as conclusões da pesquisa efectuada. É notável o esforço em desenvolver o curso de CI, sendo um campo transversal e multidisciplinar que se preocupa, essencialmente, com a análise, colecta, classificação, tratamento, armazenamento, partilha e recuperação da informação. Porém, não é ainda satisfatório, pois reflecte-se fraca produção científica e projectos de investigação. Pelo que, o ISUCIC como instituição do ensino superior vocacionada ao ensino e a investigação em informação tem dado o seu contributo através da elaboração de TCCS.
Relativamente aos TCCs de CI produzidos pelo ISUCIC, dos 103 TCCs apresentados em 2018 e 2019, concluem-se que as linhas de investigação têm maior incidência para a área de restauração, preservação e conservação (15%). A seguir encontram-se arquivos (13%), biblioteca (11%) e a área de Gestão Documental (11%).Verificou-se também que a produção científica no ISUCIC é equilibrada, sendo o sexo masculino com 51 % que mais apresentou TCC e numa percentagem não muito distante o sexo feminino é responsável por 49% dos TCC. Não há grande diferença em termos de produção científica por géneros.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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[1] Todos estes domínios apresentam objectivos gerais, conteúdos programáticos (conhecimentos essenciais que devem adquirir, habilidades principais que devem dominar e valores fundamentais); metodologia, regulamento do estágio obrigatório e não obrigatório; regime de avaliação e bibliografia. Cf. PPC, 2016, p. 20